(…)
e o pior de tudo talvez nem sejam as palavras ditas e os actos
praticados, o pior, porque é irremediável definitivamente, é o gesto que
não fiz, a palavra que não disse, aquilo que teria dado sentido ao
feito e ao dito. (…) Não há sossego no mundo, nem para os mortos nem
para os vivos, Então onde está a diferença entre uns e outros, A
diferença é uma só, os vivos têm tempo, mas o mesmo tempo lho vai
acabando, para dizerem a palavra, para fazerem o gesto, Que gesto, que
palavra, Não sei, morre-se de a não ter dito, morre-se de não o ter
feito, é disso que se morre, não de doença (…)
José Saramago, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, p.121, Ed.Caminho
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