Quando podia, escrevia-lhe uma
carta de amor. Mas das verdadeiras. Das que se mandam com selo e são
distribuídas por pessoas, de casa em casa, resgatadas de grandes sacos .
E porquê uma carta?
Porque o amor é tão bonito que
dessa forma enobrece e não se deixa perder com a passagem dos dias.
Numa carta escrevemos com caneta,
sem pressas nem abreviaturas, utilizando os vocábulos certos para cada
expressão, com intenção, com amor. Pensamos no que queremos transmitir. Damos
coração ao fio do pensamento e avançamos reféns de uma felicidade imensa.
Depois, o cuidado com que a
fechamos. O selo onde colocamos a nossa marca. Os passos que damos para chegar
ao edifício que tem por cima da porta a sigla vermelha “CORREIOS” e onde três
bocas metálicas se abrem para receberem todas as missivas.
Ficamos a pensar no caminho que vai
percorrer. No tempo que vai demorar a chegar. Finalmente nas mãos de quem
esperamos arrebatar o pensamento e a alma, serão descobertos os enigmas e os
segredos mais íntimos. Imaginamos o sorriso rasgado. Quando ler palavras que
expressam sentimentos, estados de alma e vontades de espírito o olhar vai
iluminar-se. Tantas coisas que não conseguimos verbalizar e que só a magia da
escrita desvenda…
Um dia, essas cartas ficarão
guardadas numa caixa, atadas com uma fita colorida de cetim, e serão para
sempre a recordação feliz de quem as recebeu.
Certamente serão lembradas por outras
pessoas, família vindoura, quem sabe netos,
esses para quem a vida atravessou no tempo a era da informática e utilizou os
“sms”, e a “Internet” para se comunicar mas que nunca pôde experimentar a
sensação de receber uma carta. Uma verdadeira carta de amor. E o sorriso
iluminou-lhe o olhar com a lembrança do futuro :-)
LR/2014