Pintura: De costas para nós, René, o irmão mais novo do pintor Custave Caillebotte, nascido
em Paris em 1848 e falecido na mesma cidade em 1894, olha de uma janela
da casa da família, no nº 77 da rua Miromesnil, em Paris.A balaustrada
cria uma divisão entre o interior da casa e o mundo exterior, levando o
nosso olhar a seguir o de René. O artifício de atrair o observador ao
quadro através da vista emoldurada pelo caixilho da janela torna esta
imagem numa das obras de maior fascínio de Caillebotte.Este
especializou-se em vistas da cidade de Paris e arredores, bem como em
cenas da vida das classes trabalhadoras.Amigo íntimo e admirador da ao
obra de Monet, Renoir e Sisley, Caillebotte deixou em testamento ao Estado francês a sua colecção, da qual faziam parte 65 quadros de Impressionistas.
Ninguém vive sem passado.
Todos temos
memória, lembranças, boas ou más. Todos temos. Mas ele não tivera durante quase metade da sua vida A sua memória de emoções tinha-a
construído. Os dias sobrepuseram sombras e tomado o lugar de figuras, sem rosto. Paisagens
desprovidas de contorno. Ideias que não sobreviviam ao tempo.
Das gentes, da família, tudo pequenas peças esquecidas
na continuação dos anos a que, por ausência de palavras reais, também foram
fazendo parte da mesma neblina.
Episódios felizes só os que construíra
com a imaginação. As férias que durante o
período de ausência às aulas inventava, tinham sido criadas de forma tão perfeita que se conseguira
convencer de serem verdadeiras. A praia,
a família os amigos, o sol, o campo e as
gargalhadas- tudo inventado O calendário vai deixando cair as suas folhas e a passagem do tempo juntou-o às leituras que foram surgindo como único consolo para a sua vida
deserta. As personagens tornaram-se cada vez mais escassas.
Muitos
anos passaram sobre essas não-vivências. Hoje tem dificuldade em recuar a esse
pensamento mas já é capaz de perceber a importância dessas “mentiras” que só a
si próprio serviram. Percebeu finalmente que nunca quis ver-se por
dentro. Ambicionou ter uma vida igual aos intervenientes das revistas e do cinema, não a sua vida.
Hoje, que alcançou a oitava década da vida, consegue-se
quase verdadeiro. Perdoou-se. Aprendeu a gostar dos dias que a si próprio dedica.
Aprendeu a conviver consigo, quando os amigos - poucos- não invadem o seu mundo, mas aprendeu sobretudo a aturar-se nas atitudes insubmissas, nos
comportamentos indomáveis dos sonhos por realizar.
Deixou finalmente de ser o
seu “sonho”. Percebeu-se em “espelho” nas outras pessoas. Tem defeitos e virtudes,
físicas e morais, que reconhece, mas agora está entregue a si próprio por
inteiro. A vida cumpre-se quando se vive de facto. Precisou de coragem para perceber e mudar. Criou a humildade de “conhecer” e “perceber” coisas tão
importantes como a si mesmo.
LR/2014
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